terça-feira, 13 de abril de 2010

Gestão de EaD 1

A gestão na educação superior a distância

por Carlos Bielshowisck

A Educação Superior na modalidade a Distância pode abrir as portas da competência acadêmica instalada em nossas universidades públicas, democratizando seu acesso, principalmente para a população brasileira residente nas cidades do interior, uma vez que permite formar profissionais sem deslocá-los de seus municípios.

São inúmeros os exemplos no mundo em que esta modalidade de ensino é utilizada com muita qualidade acadêmica, tal como o ensino de graduação praticado na Universidade Nacional de Educação a Distância da Espanha (UNED), na Open University do Reino Unido (OU), na Fern Universität da Alemanha, na Athabasca University do Canada, entre vários exemplos. Por certo que, como qualquer atividade amplamente difundida, são também inúmeros os casos que apresentam baixa qualidade, especialmente após o advento de recursos digitais, onde muitas vezes se confundem as reais necessidades de um sistema complexo de educação a distância com a mera transposição de conteúdos por via eletrônica.

Montar um sistema de educação a distância (EAD) que resulte em uma prática pedagógica inclusiva e de qualidade acadêmica é uma tarefa complexa, que depende de competência técnica e vontade política. A partir do momento em que se toma a decisão política de montar um sistema de educação superior a distância até o instante em que se colhem os primeiros resultados, decorrem alguns anos e é despendida uma considerável soma de recursos financeiros, visto que, para montar um sistema consistente de EAD, há necessidade de uma série de condições, sem as quais o processo não é eficaz.

Não se pode dizer que as Universidades dedicadas ao ensino na modalidade de EAD, criadas principalmente entre os anos 70 e 90, adotaram desde seu início o mesmo modelo. Entretanto, algumas características afins elas exibem, como a forte presença de material impresso e, entre as diferenças, o peso maior ou menor da tutoria presencial, realizada nos pólos regionais, em contraposição com uma presença mais marcante da área de vídeo.

O advento dos meios digitais tem trazido mudanças nestas Universidades "tradicionais" (tradicionais entre aspas, diga-se de passagem, pois são, em grande maioria, sistemas relativamente novos, com menos de 30 anos). Tais mudanças, por exemplo, em curso na UNED, vêm sendo conduzidas com cautela, a fim de não abandonar um modelo consolidado, sem alcançar com segurança um outro novo, mais pautado na utilização de tecnologias digitais. Questões como substituir a tutoria presencial nos pólos regionais por tutoria pela Internet, constituem uma delas. O problema da avaliação, dentre outros, tem sido amplamente discutido no seio destas Instituições de Ensino Superior e as soluções estão aparecendo no seu devido tempo. Outras Universidades iniciaram recentemente suas atividades em EAD, já utilizando as tecnologias digitais.

É necessário analisar detalhadamente a questão do modelo tecnológico na construção de um sistema de EAD e, em particular, nos países em desenvolvimento, onde a garantia do acesso da população a estas tecnologias ñ acesso não apenas físico mas também cultural ñ precisa ser contemplada. Na montagem de cursos de graduação a distância, tais questões devem ser levadas em conta, para que os objetivos de construir uma sociedade mais justa e desenvolvida sejam alcançados.

Além disto, é fundamental entender que um sistema de educação a distância é, de fato, um sistema. Um sistema complexo! Aquilo que parece absolutamente óbvio, quando observamos as diversas experiências bem-sucedidas implementadas em todo o mundo, por motivos que não nos cabe analisar aqui, muitas vezes não é plenamente considerado na elaboração de novos projetos.

Um sistema de EAD deve contemplar algumas questões básicas:

1) Precisa apresentar objetivos claramente estabelecidos, ou seja, oferecer um projeto político/pedagógico bem definido e consistente com seus propósitos;

2) Deve utilizar um material didático impresso e, eventualmente, também em meios digitais, com conteúdo sólido e preparado para o processo de educação a distância;

3) Precisa contemplar uma solução clara para o sistema de tutoria, peça chave no sucesso de um sistema de EAD;

4) Deve dispor de plataformas tecnológicas adaptadas às necessidades da proposta e, ao mesmo tempo, de elementos tecnológicos não excludentes, do ponto de vista do acesso aos estudantes;

5) Precisa indicar uma solução física e operacional que garanta encontros presenciais e disponibilize espaços de ensino/aprendizagem (laboratórios, biblioteca, etc.) próximos ao estudante;

6) Precisa contemplar um sistema consistente de avaliação;

7) Necessita de uma equipe docente altamente qualificada, tanto do ponto de vista do conteúdo específico, quanto no que concerne a pressupostos pedagógicos, uma vez que esta equipe estará multiplicando seus conhecimentos, de forma interativa, para um número de alunos muito maior que aquele praticado pelo ensino presencial;

8) Necessita de uma infra-estrutura administrativa/operacional que garanta a eficácia de todas as complexas etapas do processo.

Enquanto em sistema de educação presencial, uma eventual falha em um dos elementos do processo pode ser reparada sem grandes prejuízos, o mesmo não ocorre no processo de Educação a Distância.

Por exemplo, na educação presencial um professor pode remarcar um exame sem maiores problemas. Na Educação a Distância os exames são pré-marcados e os alunos deslocam-se, muitas vezes de grandes distâncias, para realizar seus exames nos pólos regionais. Uma mudança de data, após seu deslocamento, pode desanimá-los fortemente. Da mesma forma, um material didático pouco atraente pode levar o aluno a considerar-se inapto para o curso, levando-o eventualmente a abandonar o curso, o que não ocorre no processo presencial, no qual o contato presencial com o professor oferece aos alunos outras opções.

Em síntese, o sucesso de um programa de Educação Superior a Distância depende criticamente do cumprimento rígido de todos os procedimentos planejados em seu projeto.

Fonte:tvebrasil

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